O amor é um confortável tricô com pontos abertos

Um dia de frio, na cama, meu namorado brincava de usar adjetivos estranhos para definir a sensação de estarmos abraçados sem fazer nada. Uma das mais verídicas expressões que ele usou foi “confortável”. Hoje mesmo, ao conversar com amigas queridas, chegamos à conclusão que uma das melhores peças do guardarroupas é um tricô com pontos abertos esquenta no inverno e deixa a pele respirar no verão. O amor é um confortável tricô com pontos abertos.

Confortável não é cômodo. Confortável é aquela fração de segundo que dura um abraço e onde você sabe que poderia morar. É o cheiro do outro traduzindo a fragrância dos seus pensamentos, a pele tocando de forma confortável mesmo que fora de hora. Conforto é momento, e um amor também.

O maior amor do mundo pode durar um minuto, a sensação plena de conforto também. Mas ele existe, invade a nossa alma e faz a dança mais bonita que pode existir: faz a gente se sentir eterno e, ao mesmo tempo, a vida valer a pena por um segundo.

Mas o amor não poderia ser um moletom. Porque moletom é confortável demais e o amor gosta de se mostrar. Também não poderia ser um casaco pesado porque o amor é leve.

O tricô é confortável e combina com tudo, como o amor. Quanto faz frio, no corpo e na mente, ele esquenta. Como o amor, que esquenta a mão do outro e destrói o gelo da solidão. Mas o tricô também pode ser fresquinho no verão, porque esfriar a cabeça e as opiniões quando elas fervem também é papel do amor.

Os pontos abertos do tricô são aqueles que deixam ventilar, que deixam respirar. Tricôs de pontos abertos não sufocam, não amarram. Deixam o cheiro se espalhar.

O amor, assim como o tricô, é feito à mão. Aquela que afaga, que carinha, aquela que é boba ou a que cozinha pro outro. É a mão que brinda e a mão que treme, que sua. A mão é a expressão do amor. Aquele que é, no fim das contas, um confortável tricô com pontos abertos.

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