O dia em que me escolhi

Tenho medo de algumas situações que, honestamente, não sei se outras pessoas também têm. E não digo somente de animais estranhos e pegajosos, fantasmas ou palhaços com aqueles calçados enormes, digo de tomar decisões que me fariam bem, mas que por medo de desapontar os outros, optei por eles ao invés de mim. Houveram poucas vezes em que eu soube dizer “não” na hora que deveria ter dito. Eu sempre tive uma insistente mania de querer ser aceito em situações que eu definitivamente não precisava. Assim, em busca de ser bem quisto e querido, eu deixava minhas prioridades de escanteio e tentava fazer malabares com os ponteiros do relógio, tudo isso para suprir as necessidades de quem, ao final da estrada, pouco se importava comigo.

Quando porventura conseguia dizer “não” a situações que certamente não me fariam bem, eu ficava com retóricos questionamentos pairando na minha consciência, como se não tivesse feito o certo ou tivesse sido injusto. Depois de constantemente acudir, amparar e sorrir para pessoas que nunca me sorriram de volta, resolvi me escolher como porto seguro de mim mesmo. Foi uma época triste e com um grande desperdício de energia, tanto para a minha vida pessoal quanto para a sanidade do meu sono. Querer agradar a todos é uma das grandes frustrações das pessoas que carregam consigo uma dose a mais de sensibilidade.

Aprendi, e não faz muito tempo, a pensar no que de fato é importante para mim. Muitas vezes, por mais pessimista que soe, não são somente os nossos amigos ou colegas que nos colocam nessas situações, mas a nossa própria família. Infelizmente, nem sempre a nossa família é a nossa maior encorajadora. Cansei de carregar essa sensação de que as coisas que eu faço nunca são o suficiente, por mais que eu doe toda a minha intensidade, por mais que eu faça tantos sacríficos pessoais. É uma triste e injusta sensação de impotência.

O tempo passa, escorre pelos dedos, e a gente não pode deixar de estender as nossas mãos, até porque não seria uma opção honesta com quem somos. Só precisamos aprender a nos proteger de quem tem múltiplos interesses, mas poucas intenções sinceras. Saber distinguir em qual situação devemos nos entregar de corpo e alma é um sábio e demorado aprendizado. Hoje estou melhor, observando mais os olhos do que as palavras de quem conversa comigo, mas admito que continuo tendo dificuldades em negar panfletos na rua…. é sempre uma enorme dificuldade.

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