Porque nem a Jennifer Lawrence nem ninguém é a mulher mais sexy do mundo

Você não leu errado: Este é exatamente o mesmo texto da semana passada, só que dessa vez é sobre a Jennifer Lawrence, a mulher loira, alta e esbelta que foi eleita a mais sexy do mundo – eleição com a qual não concordo exatamente pelos mesmos motivos que já expliquei exaustivamente.

E eu juro que não é falta de pauta. É que algumas pessoas – com a visão turvada pelo radicalismo – não compreenderam que o texto da semana passada não foi sobre Lupita N’yong, nem sobre as mulheres negras, nem sobre o movimento negro. Foi um texto sobre a falta de sentido dos concursos de beleza num mundo de total diversidade.

Por ter sido mal interpretada, e por ter ouvido – entre muitos outros absurdos – que uma mulher branca não pode falar em nome das mulheres negras, resolvi deixar as coisas o mais claras possível, em respeito ao público que acompanha o meu trabalho e participa – de forma saudável – das discussões geradas.

Segue o texto que gerou tanto estardalhaço desnecessário – dessa vez com nomes trocados, já que a Jennifer é branca e eu posso falar dela, confere?

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Na última semana fomos surpreendidos por mais um concurso de beleza – desses em que as pessoas elegem o (a) mais bonito (a) / sexy da cidade, do carnaval, do país, do mundo e da Via Láctea, como se alguém pudesse definir e mensurar a beleza. A Jennifer Lawrence foi eleita a mulher mais sexy do MUNDO.

Isso quer dizer que a sensualidade dela supera a sensualidade da sua professora do Jardim de Infância (que é a mulher mais sexy do mundo pra você, confere?). Ou da sua vizinha gostosona, ou de Gisele Bündchen – que é a mulher mais sexy do mundo pro meu tio do Pavê – e de Gretchen, que deve ser a mulher mais sexy do mundo pra algum maluco por aí, e do que a Letícia Sabatella (que é a mulher mais sexy do mundo pra mim).

Essa minha tentativa de ser bem-humorada foi só pra dizer que não há nenhum sentido em eleger a mulher mais sexy do mundo, estando ela dentro ou fora dos padrões de beleza. Pouco importa se a eleita é uma mulher negra com cabelos crespos, uma loira escultural ou uma modelo Plus Size: simplesmente não faz sentido eleger uma só figura, seja ela qual for, para representar a concepção de beleza no MUNDO. Porque Jennifer, no auge da sua sensualidade escrachada, não pode representar a sensualidade da mulher sueca, ou da brasileira, ou da indiana, ou da Plus Size, da albina, da ruiva ou da tcheca. Cada uma tem uma sensualidade única que não pode e não merece ser classificada, avaliada, votada e eleita, principalmente porque não há qualquer objetivo plausível nisso. E esta é a lógica de todo e qualquer concurso de beleza: Nos classificar. É tão óbvio que é vergonhoso escrever sobre.

Precisamos, tão somente, que parem de nos monitorar, de nos avaliar e de julgar nossa aparência. Precisamos da nossa beleza respeitada e admirada, seja ela qual for. Seja branca, negra, gorda, magra, oriental, bombada ou sardenta – e qualquer eleição que estabeleça a mais e a menos sexy nos aprisiona.

Independente disto, é certo que a sensualidade foi feita pra ser admirada, e não convencionada. Vejam, admirem – e tenham suas preferências, ninguém aqui é contra isto. Mas, por favor – e este é um pedido encarecido em nome de cada mulher que tem sua aparência julgada ao redor do mundo, inclusive de Lupita, Jennifer e das Misses Universo por aí – parem de nos avaliar. Deixem os nossos cabelos, as nossas pernas, as nossas peles e os nossos narizes em paz. Deixem-nos ser como quisermos ser e assim elejam a mulher mais sexy do seu mundo.

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