Poucos são os que já amaram de verdade
Amigo, tá ai? Preciso muito te dizer que o nosso problema com relacionamentos não é nosso problema. Que nós não somos os errados da história. Sim, assumo que somos esquisitamente carentes, mas isso faz parte da nossa essência. Carregamos o mundo todo nas costas ou dentro do peito, e no fim, só queremos que alguém o abrace ou, de repente, faça um curativo, tape os buracos com band-aid pra que ele continue batendo. Para represa não romper.
A gente se doa, se dói, se entrega e apanha. Mas no fim, tudo que fazemos é importante. Ensinamos às pessoas o que é ter alguém que se importa, que ama, que liga no dia seguinte ou mais de uma vez no mesmo dia. Ainda somos aquele tipo de gente que ouve música e chora, cara, a gente, ainda, chora. Sabe o quão raro isso é?
Neste mundo de estátuas de sal que vivemos, ainda queremos um único alguém para cuidar. Para amar. Para fazer do peito, ninho. Do coração, abrigo. Somos únicos. No meio de sete bilhões de pessoas, não nos rendemos à maioria que vive amores rasos. Fúteis. Que se vendem por status.
Amigo, pessoas como nós são tão escassas! Só agora me deixei envenenar por esse egoísmo ridículo. Sabe, a gente aceita tanta coisa, pondera, elogia, critica, analisa, ressalta, discute, a gente entende tanta coisa, coisas que chegamos a condenar em nossos próprios reflexos. Sabe o que é? Talvez tenhamos nos acostumados a ser o que somos e busquemos outros assim. Do nosso tipo. Sensíveis demais. Emocionais demais. Sentimentais demais. Racionais, com certeza, de menos.
Amigo, ainda tá ai? Preciso muito te dizer que o nosso problema com relacionamentos não é nosso problema. E outra coisa – que nós não somos os errados. Errados são todos os outros que se deixam contaminar pela dura e fria forma de viver. Que acabam rejeitando carinho porque sua liberdade precisa vir acompanhada da solidão.
Mas, para concluir o meu desabafo, meu querido, quero te dizer mais uma coisa — poucos são os que já amaram de verdade. Poucos são os que já entraram no fogo cruzado do amor de peito aberto. Mas não os culpo. Eles nunca souberam amar alguém porque, até antes das nossas aulas de companheirismo, nunca tinham vivido um romance. Sendo assim, dou-me por satisfeito. Eu mostrei para alguém o que é ser gostado de verdade.
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