Príncipes, desencantem! Mulheres, desencanem!

Falou em literatura pra homem, já vem em coro o time feminino do Flamengo (escolha outro, se não gostar) erguendo a bandeira do pornô. Hasteada em outra ponta, já levando a homarada mais a sério e, claro, acreditando que eles leem com a cabeça certa, tremula a bandeira dos policiais, biografia de personalidades históricas, didáticos… E há quem jure de pé junto que autoajuda faz o gosto dos viventes machos.

Acho que vou destoar do tom agora. Mas ‘Pequeno Príncipe’ é que é livro pra homem. Piegas, démodé, ‘livro de miss’. E o queco? É livro de gente grande, sejam eles pequenos, crescidinhos ou já no crédito da vida. Não que as meninas não o possam ler. Pelo contrário, devem. Não há livro melhor pra entender o que se passa no coração dos homens. Mas para elas não faz tanto sentido quanto para eles. Para elas, é chover no molhado. Já para os homens…

O ‘Pequeno Príncipe’ é daqueles livros atemporais, eternos, que o são justamente porque falam de alma pra alma e carregam mais aprendizados numa página do que talvez se possa ter, na vida real, em anos. Não por acaso, nesse nosso tempo de pseudo conhecimento, há hoje um revival do livro, setentão, bem como das grandes fábulas. “Só as crianças sabem o que procuram” – e não é? Crescemos e desaprendemos a nos encontrar.

Pra quem não sabe, a história se passa numa conversa de poucos dias entre o piloto e o pequeno – a criança interna do autor, diga-se de passagem. Na real, é a história de uma vida, seus encontros, desencontros e grandes lições. Mas porque diabos eu estou aqui falando que é ‘pra homem’? Todo mundo sabe que, além da barreira do tempo, ele quebra a do gênero! Porque, meninas, ele fala do amor do pequeno menino sobre a sua rosa. Rosa que, para ele é a única no mundo… até descobrir um milhão de outras iguais! Que decepção, que desilusão, que desencanto! Isso é amor de homem. Daqueles que viram clichê de mesa de bar ‘ah, aquela bandida, ingrata!’.

Enquanto para as mulheres, todos os homens são príncipes em potencial (se ainda não são, vão ser… ah, se vão! ‘eu posso mudá-lo’ – é o que acredita a carente massa de saias), quantos homens não sabem, até hoje, distinguir a sua rosa das demais? Para os homens, é preciso achar a mulher ideal… aquela perfeita, única, maravilhosa. Que vai dar sentido à vida dele, que vai tornar todas as suas inglórias lutas em batalhas épicas. Para quem ele será capaz de brigar de capa e espada pela honra! Ou só comprar uma casa, montá-la, ter um cachorro ou um filho. É a mesma coisa. Ele sabe que esta, ah, esta jamais o decepcionará! Ele procura lá e acolá e, mais cedo ou mais tarde, vai achar que são todas iguais. Como bem canta o ator Richard Kiley no papel do piloto Bob Fosse no filme de 2004 (adaptação fidelíssima) diante do fato de conhecer tantas  flores, mas nenhuma rosa: “no final das contas, será que a culpa é minha?”.

É, chegamos ao ápice do livro, que dá fim à busca de ambos – grandes e pequenos homens. O encontro com a raposa. É aqui que normalmente a coisa emperra. O pequeno homem, no livro, finalmente descobre que é o tempo que passou com a rosa, o carinho que dedicou a ela, o trabalho que investiu nela (e como dá trabalho uma rosa!) que a tornou única. Ele aprende o que significa ‘cativar’. Amar exige trabalho, tempo, investimento, dinheiro. Como, aliás, tudo que é bom. Alguns homens, na real, sabem disso – e destes, uns pagam pelo benefício, outros não. Depende do valor que dão a uma vida emocionalmente rica. Ou, vulgarmente falando, à própria felicidade. E há ainda uma parcela cega, só sabe ver com os olhos que a terra há de comer e para os quais, todas são iguais. Não conhecem o grande segredo. Diante destes, recomendo às mulheres uma pequena lição da inominada rosa, logo no comecinho do livro: ‘É preciso suportar duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas’. Todo homem é um pequeno príncipe desencantado, esperando para crescer e finalmente sair da toca e voltar pra casa.

Na despedida, o grande segredo…

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