Quisera eu acompanhar teus descontroles

Tô rabiscando amores em papéis já rascunhados que chamo de coração-grafeno. Leve, muito leve, finíssimo, quase transparente, carrega calor em seu interior e é tão forte que pra alguma coisa entrar nele são necessárias horas e horas de cuidado, carinho e desejo mútuo de quase-perpetuar uma companhia qualquer.

Sempre foi assim.

Mas teu sotaque em dizer “tu” ao invés de “você” – ou “cê”, como digo –, teu olhar pro alto quando pensa em algo bonito para dizer ou por simplesmente se permitir ficar em silêncio ao faltar palavras, teu compromisso consigo mesma significando não ter mais compromisso com coisa alguma me fizeram parecer um bunda-mole-qualquer que se apaixona como uma criança ao ver um moço vendendo algodão doce, essas coisas.

Teus cabelos não são de algodão doce, mas balançam feito nuvens em tempestades bonitas.

Teus lábios não são de algodão doce, mas me cheiram açúcares perfumados e atrativos.

E até teu corpo não é de algodão doce, mas me emana uma vontade insana de mordê-la sem anseio de fim.

Mas nem tudo é assim dulcificado em tu.

Teu jeito áspero de xingar sorrindo, teu intranquilo acordar pré-nove-da-manhã. Tua cara fechada e reclamona de quem prefere dormir até mais tarde do que aproveitar o dia.

Eu-sou-notívaga, cê esperneia.

E o que faz ser ameno nesse troço aqui é a vontade – muito mais que muita – de te vadiar madrugadas inteiras e, de repente, trocar meu coração-grafeno pelo teu peito-albergue que, meio sem querer, abriga moços perdidos em todas as noites que a lua resolve te iluminar em novos caminhos.

Quisera eu acompanhar teus descontroles.

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