Respeite o meu 1kg de força
Tô chegando aos 30 e resolvi sair do sedentarismo de uma vez por todas. Já tentei pilates e hidroginástica. Mas, no fundo, sempre soube que eram atividades mais voltadas para o meu condicionamento emocional do que físico, já que era minha chance de ter a minha mãe só pra mim por uma hora sem me sentir uma criança de novo. Dessa vez, estou encarando sozinha o meu maior pesadelo: o combo marombados + música ruim + exercícios entediantes e doloridos.
Eu nem imaginava que existia sensação pior que dormir na mesma posição que deitei e, pela cara com que as pessoas me olhavam na rua, andar o dia inteiro na mesma angulação. Tudo isso de tanta dor de mexer as pernas. Tudo porque finalmente entendi o que significa sentir desconforto até no cabelo.
Mas ela existe. E essa é a sensação de que todos na academia estão julgando a sua falta de força. É a vergonha de se suar em 15 minutos na esteira enquanto os outros não transpiram nem um pouco ao correr uma 21k. É o sentimento de deslocamento absoluto quando dois fisiculturistas conversam ao seu lado enquanto você não consegue rosquear nem o banco para colocar na posição anã que te permite alcançar o pedal do aparelho.
A academia é um ambiente hostil para quem está começando perto dos 30 e usando camisetas de promoção. É preciso muita determinação para não girar a catraca para nunca mais voltar. Para não concluir que é mais amor próprio não se importar com a respiração ofegante ao fim da escada do que estar ali. Para não imaginar todos os músculos comprimindo o cérebro dos marombados e acreditar que eles podem ser caras legais e inteligentes. Para se manter firme e não se apegar a eles pensando em você comendo um saco de Fandangos e tomando dois litros de Coca Zero – porque me parece ser isso que eles imaginam toda vez que olham para a minha careta ao levantar um único retângulo preto.
Pela primeira vez, encaro os marombados nos olhos e espero que eles entendam o “tá olhando o quê seu babaca?” que digo em silêncio. Tenho orgulho do meu 1kg de força. Tanto que, ao invés de contar as minhas séries de 15 em 15, emendo a contagem até 30. Porque eu posso não carregar dezenas de quilos de uma vez, mas penso em cada movimento como uma contagem regressiva para as dores e delícias da minha nova década. Aquela que ainda nem chegou mas já deixa pra trás o meu pior pesadelo: o combo marombados + música ruim + exercícios entediantes e doloridos.
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