Sempre passa

– Sei lá, Luiz, é estranho. Depois que eu me separei, eu não quero mais me apaixonar, sabe? Não quero mais relacionamentos, nada disso. Eu sempre me machuco.

– Todo mundo se machuca, acontece. Eu sei que a sua separação foi mais dolorosa e tensa que o normal, mas acontece com todo mundo, saca?

– Mas eu não quero. Não quero arriscar.

– Mas vai passar, isso vai passar. Sempre passa.

– É, mas agora eu não quero…

– Mas vai passar e você vai querer. É isso que eu tô falando.

– Não sei, sinceramente, Luiz. Não sei não.

– Você sabe por que eu sempre tive ciúmes dos seus namorados, Bela?

– Por que você era apaixonado por mim? Aliás, por que você era apaixonado por mim? Quando você olha pra mim, o que você vê?

– Não só por isso. Mas porque você é uma namorada maravilhosa. Eu nunca vi ninguém se dedicar a um relacionamento como você se dedica. Quando eu olho pra você, eu vejo, além desse decote sensacional, uma pessoa que se entrega de corpo e alma, que se dedica, que faz de tudo pra tudo dar certo. Uma pessoa que é companheira, amiga, que cuida, que zela. Engraçada, sexy, carinhosa, fogosa. Romântica, sincera, honesta eu não acho que a gente precise ter um motivo pra se apaixonar, mas se precisasse eu teria vários.

– O problema é esse. Eu me dedico demais. Por que eu sempre sou a mulher da vida dos meus namorados, mas só depois que a gente termina? Por que eles não se esforçam enquanto me têm? Por que eles não fazem antes as coisas fantásticas que eles prometem depois que me perdem? Eu não aguento mais ser a mulher da vida de um cara depois da gente se separar. Eu não quero mais me dedicar.

– E você vai conseguir? Até parece.

– Vou porque eu não quero mais me apaixonar. E se me apaixonar, não quero me relacionar.

– Bela, vou te contar uma história chata, mas que é bem legal. Um dia dois monges estavam andando na beira do rio, quando viram um escorpião se afogando. Um dos monges foi lá e salvou o escorpião, mas o escorpião mordeu ele no meio do caminho. Mas mesmo assim o monge tirou ele da água. O outro monge viu aquilo e perguntou: ‘o escorpião te picou e mesmo assim você salvou a vida dele. Por que?’. E o monge que salvou o escorpião respondeu: ‘Porque ser agressivo e traiçoeiro é da natureza do escorpião, não da minha. E ajudar ao próximo é da minha natureza, não da dele. Eu não vou deixar nada interferir na minha natureza. Eu ajo como acho que devo, não como os outros agem comigo’. Você não tem que mudar, não tem que fugir nem deixar de se apaixonar. Espera isso passar e se dedica do mesmo jeito que antes.

– Não sei. Não sei mesmo. Se dependesse de mim eu não me apaixonada nunca mais, não me relacionava com ninguém nunca mais.

– Mas ainda bem que não depende. Eu ainda quero sentir ciúme e inveja de muitos namorados seus, por terem uma namorada tão dedicada e companheira como você.

– E safada

– E safada.

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