Seu amor não é amor se você não o questiona
Tenho a impressão de que as pessoas inventaram um conceito de amor e guardaram – não consigo. E deixaram de se questionar sobre o que, de fato, faz do amor, amor. E pode até ser meio besta essa minha mania – que é quase um TOC – de querer traduzir tudo em palavras, mas, em alguns casos, é realmente necessário.
É que vamos vivendo o amor, na velha arte de deixar fluir, e deixamos de nos questionar o que estamos fazendo para mantê-lo de pé, justificando-nos com mil e uma bobagens impalpáveis – até nos convencermos de que o amor é aquela coisa abstrata e intocável, perfeito em si mesmo.
Mas o amor, na verdade, é como um instrumento musical que, vez ou outra, precisa de reparos – ou substitui a bela melodia por um ruído incômodo.
O amor, embora, em certo ponto, intraduzível, não pode ser deixado de lado, não pode caminhar com as próprias pernas, ser conduzido pelo acaso que, convenhamos, é tão distraído!
O amor só é amor se, vez ou outra, nos questionamos sobre o que fazemos em nome dele. Sobre o quanto nos esforçamos pela felicidade do outro, sobre o quanto cedemos espaço, preparamos o terreno, fazemos concessões.
E nos questionamos, sobretudo, se o amor ainda está ali. Se nos preocupamos em auferir seus batimentos, conferir se ele respira bem. Se ainda nos traz a mesma emoção, o mesmo formigamento no estômago, a mesma felicidade sutil. Se ainda vale a pena, enfim.
O amor não é amor se você não presta atenção nos sinais que ele te dá, sempre incansavelmente. Se você não investiga minuciosamente o sorriso do outro, até ter certeza de que é verdadeiro. Se você não se pergunta se, realmente, tudo vai bem.
É triste pensar que muitos amores quebram por falta de manutenção. Deixam de produzir uma bela melodia para emitir ruídos, porque, simplesmente, não cuidamos dos detalhes – e o que são as relações amorosas, se não uma imensa junção de detalhes, como uma colcha de retalhos cuja beleza mora justamente nos remendos?
Quem ama – e pensa sobre o ato de amar – acorda e se pergunta: o que eu tenho feito para que dê certo? Qual foi o último detalhe que eu menosprezei? Quando foi a última vez que eu tornei o dia de quem amo melhor?
O amor não pertence àquele que simplesmente se habitua. O amor não socorre a quem se distrai. É como uma criança precisando de cuidados, uma planta precisando de água e algumas horas de sol, um livro que precisa ser relido quando estiver prestes a ser esquecido. O amor não é nada se dele não fazemos nada. Por que o amor, depois de todas as traduções que ousamos lhe dar, é o que fazemos dele. O amor somos nós.
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