Só nos apaixonamos por quem não conhecemos direito

por Léo Luz

O Alain de Boton diz, em Essays in Love, que “só podemos nos apaixonar sem conhecer por quem nos apaixonamos”. Na verdade a paixão verdadeira raramente tem como alvo alguém que conhecemos bem. Geralmente nos apaixonamos no estágio de ainda conhecer a pessoa, quando muito sobre ela ainda nos é desconhecido, misterioso. Essa é a paixão real, a paixão que, como é inerente à paixão, é irracional, pulsante, instinto puro. Já a paixão que vem com o tempo, conforme conhecemos o ser amado, não é paixão, é a evolução natural fazendo uma escolha que, apesar de inconsciente, é racional. Somo nós escolhendo um par que, racionalmente, combina mais conosco e aumenta probabilidade de um relacionamento bem sucedido. Não é paixão, é uma escolha racional, baseada não no sentimento e no “instinto”, mas na probabilidade de sucesso. Pode ser certo? pode, até é, mas não é a paixão pura.

A maior e principal memória que tenho da minha avó, falecida há um ano, era dela sentada na poltrona dela fazendo Crochê. E uma frase constantemente repetida por ela só foi me fazer sentido anos depois. “Leonardo, para de encher o meu saco porque se eu errar eu vou ter que começar tudo de novo!”. Eu achava que era uma espécie de autopenitencia, perfeccionismo, algo que faria ela, conscientemente, começar tudo de novo se errasse.

Mas não. O crochê é feito de maneira concêntrica, ou seja, a partir do centro. Se você faz camadas, sendo a primeira do centro 1, e a última, a 10, e você percebe que errou na camada 4, você necessariamente vai ter que simplesmente desfazer tudo o que você fez a partir da 4, ou seja, vai ter que desfazer as camadas 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10. A minha avó, sem saber, falava também sobre a paixão. Se a sua paixão está na camada 1, a mais perto do centro, e os erros e afinidades estão nas demais camadas, qualquer erro que se cometa a partir daí é facilmente remediado, sem atingir a camada da paixão. Mas se você coloca erros e convivência nas primeiras camadas e a paixão na camada, digamos sete, imaginemos que haja um erro na camada cinco. Para que esse erro seja resolvido ou até mesmo esquecido, você vai ter que passar por cima da camada da paixão. E, se você desfizer essa camada, pra refazer, pode não ser tão fácil.

Quando você se apaixona antes de conhecer alguém profundamente, a racionalização não atrapalha tanto. Quando você descobre um defeito grave ou quando vocês têm um problema e você já está apaixonado, o pensamento é “não tem problema, nós nos amamos, vamos resolver juntos”. Mas quando a paixão vem e você já conhece o problema, o pensamento é “será que nosso amor vai sobreviver a isso”? Não parece mas é muito diferente, uma foca na força de superar qualquer coisa, outra foca na dúvida. A paixão racional é frágil, tenta bater de frente com obstáculos. A paixão pulsante e pura tenta sobrepor obstáculos, conviver com eles em vez de destruí-los, porque, afinal, já estamos apaixonados mesmo. E acreditem, ver um amor se desfazer camada a camada por causa disso dói muito mais do que as chineladas que a minha avó me dava quando eu estragava o crochê dela.

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7 comentários abaixo sobre Só nos apaixonamos por quem não conhecemos direito

  • Tayná Souza disse:

    Eu gosto do amigo da minha prima eu nem conheço ele direito e ele também não mi conhece muito bem mais minha prima diz que ele me ama sem me conhecer e eu Também sinto algo muito forte por ele também mas o meu maior medo e ele me regeitar condo me conhecer

  • Gabriela Bispo disse:

    Conheci um rapaz na internet, e nas primeiras conversas gostei dele porém ainda não sentia algo assim pq estava confusa ainda sobre meu ex, mas aí conversa vai e vem, fomos apreciando mais os assuntos, e um dia que pedi pra fazer uma ligação, ah aquele dia foi o dia que comecei a sentir algo por ele, eu sei, aí depois ele veio me dizer que queria se afastar pq eu disse que ainda gostava do ex, bom eu concordei na hora, só que depois foram se passando uns dias em uma semana eu já estava triste por não falar com ele, senti muita falta, muita saudade, na vdd eu senti muita vontade de ir até ele depois daquela ligação, sei lá parece que tudo mudou naquele dia, e quando ele se afastou ficou mais intenso, hoje tá chegando perto de 1 mês que eu estou sem entrar nas redes sociais por conta disso principalmente, mas eu não consegui esquece- lo como pode pq eu conversei com ele com menos de 1 mês, e parece que já tinha anos, eu quero esquece- lo pq sei que ele não sente o mesmo, estou seguindo minha vida, focando mais em mim, mas pensar nele todos os dias está sendo inevitável, não sei pq isso aconteceu assim :(.

  • apaxonada disse:

    Nossa senhora, eu senti a chinelada daqui

  • Nicolly disse:

    Eu me apaixonei por uma p

  • Anônima disse:

    Eu me apaixonei a primeira vista, mais eu não sei o que eu faço até porque eu não conheço a pessoa e tentei falar com ela pra conhecê-la, mais não tive coragem eu sinto que estou me iludindo aos poucos
    e agora não sei o que eu faço>.<

  • James disse:

    realmente nos apaixonamos pela conquista, pela dúvida, pela falta, pelo desejo, pelo que ainda é desconhecido… tudo menos pelo que realmente é. Porque enquanto não conhecemos o outro, há um espaço ali, e a gente preenche isso com nossas projeções e fantasias – traduzindo: nos apaixonamos pelo que inventamos.
    Estou apaixonado nesse momento. Tenho 25 anos. Acho que é a 2a vez que tenho esse sentimento, a primeira foi na adolescência. Está sendo recíproco, mas me sinto tão frágil, como se fosse feito de vidro e fosse quebrar a qualquer momento… deve ter a ver com traumas, baixa autoestima ou sei lá o quê… mas ler coisas assim me faz sentir previsível, e me sentir previsível (e bobalhão) ajuda diminuir os sintomas fa parte difícil da paixão, que é aquela fragilidade que sentimos… aquele medo de se permitir subir muito alto e a queda ser “mortal”… sabem do que estou falando.