Todos parecem mais felizes do que você – não confie no que os olhos vêem
Ana está criando algo incrível na cozinha e bebendo um vinho da África do Sul. Rodrigo viaja por Portugal. Carol relembra ter subido um pico sinistro que eu tenho medo até de tentar pronunciar o nome. Josiane celebra o amor pelo filho. Léo exibe a neve no velho continente. Elô o pôr do sol na Tailândia. Francisco capta o detalhe arquitetônico com olhar de artista e precisão cirúrgica. Mariana acaba de voltar da corrida.
Eu e pilha de roupa. Eu e a olheira. Eu e o trânsito. Eu e o caos. Eu e a coluna. Eu e a solidão surreal que se apossa de mim. Eu e a sensação de ser mais infeliz do que todo mundo no mundo.
Parecia mais fácil de viver quando a gente simplesmente olhava em volta. Ao redor, todos estávamos no mesmo barco. Um aceno para a calçada e lá vai a Júlia pra faculdade. Chego no bar e, olha só, gerente-do-banco-amigo-engomado comendo hambúrguer com Coca Diet. Mal consigo andar e, oi, Morgana, onde é que você vai tão linda? O mundo analógico parecia menos dolorido.
Agora, não bastasse levarmos o trabalho no bolso, a gente ainda carrega no aparelho que era só pra facilitar a comunicação entre seres humanos uma porta entreaberta para a frustração. Ia só dar uma espiadinha e pronto: escancara na sua cara que a sua parece ser a vida mais infeliz do mundo. Bem ali entre o mediano e o medíocre.
Eu trabalhando feito louca, o outro curtindo uma viagem internacional. Eu sem ânimo pra recolher a roupa que está jubilando no varal, os amigos falando sobre a maravilhosa sensação de sair da academia. A rotina me corroendo, o cara que se formou na mesma turma somando prêmios. O aluguel pra vencer, a conhecida sustentando a família e ainda comendo sushi.
Todos parecem mais felizes que eu. Todos parecem mais felizes que você. Todos parecem infinitamente mais felizes que eles mesmos. Assim como eu, assim como você.
Acontece que comparar a vida real com a versão que postamos nas redes sociais é simplesmente injusto. Porque na internet tem filtro, trending topics. É como se a gente assumisse o claquete da direção e pudesse apontar qual é o melhor ângulo. Como se desse pra gravar de novo e de novo e de novo. E, assim como no cinema, quanto mais ensaiado e exaustivo, mais parecido com a vida real.
No Instagram, tenho milhares de amigos, só como em restaurantes incríveis, vou a shows constantemente, moro no mais organizado e criativo lar, sou uma empreendedora sem dias ruins. Tenho certeza que a sua vida também parece sensacional. E mais: que tem alguém neste exato momento sofrendo por não ter a vida que você mostra ter.
Aí eu me pergunto: será que um dia a gente vai aprender a não se frustrar por sermos exatamente quem somos? Ou vai chegar o tempo em que vamos entender que a felicidade está nos momentos em que estamos sem wi-fi? Talvez exista o dia em que consigamos encarar com naturalidade que a vida que a gente posta é só uma pílula daquela que gostaríamos de ter. E o outro também. E tá tudo bem. Estamos todos bem. Ou sou eu que estou mal?
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