No sertanejo, passaram os amigos e chegaram as amigas
Eu devia ter uns oito anos quando o show Amigos passava na Globo. Era um alvoroço só. Leandro & Leonardo, Chitãozinho & Xororó e Zezé Di Camargo & Luciano eram capazes de parar a cidade do interior que eles nunca pisaram, sequer ouviram falar. Tinha pipoca, tinha família na frente da TV, tinha as mesmas músicas repetidas à exaustão. Eu achava aquilo incrível e na época nem passava pela minha cabeça a ausência de mulheres naquele palco. Eram amigos. Homens. Pronto.
Quando tive um pouco mais de maturidade, me apaixonei pelo samba. E, que lindo, a presença das mulheres nas quadras, batucadas e terreiros é antiga e maciça. Muito antes dos Amigos, Dona Ivone Lara já era a voz mais forte de Madureira e Beth Carvalho apadrinhava outros bambas.
Talvez por isso, quando os nomes femininos do sertanejo começaram a pipocar nas timelines, eu tenha achado apenas normal. Não percebi que a nossa revolução – hora silenciosa, hora barulhenta – dava mais um passo. Quando me dei conta, a menina que fazia escova no meu cabelo estava me contando que nas playlists das baladas, quem mandam são as Amigas.
Fui pesquisar. São todas maravilhosas. Marília Mendonça, Maiara & Maraisa, Simone & Simaria, Naiara Azevedo. Músicas chiclete, produção sensacional, público mandando ver. Não dá pra passar impune aos cinquenta reais (só não entendo essa de ajudar a pagar motel com outra. Mas talvez eu seja meio antiga, mesmo).
No meio de tanta embasbaques, sorri ao perceber que se tem uma coisa que elas mostram é a diversidade. Muitas não seguem o padrão de magreza de outros estilos. São maravilhosas, poderosas, soltam o vozeirão, usam saia curta e ainda estão ensinando a uma geração de meninas que bonito é ter autoestima.
Também fui descobrir que elas ainda compõem as próprias músicas. Colocam a sofrência pra fora, esguelam as dores de amor. Ainda gravam juntas, fomentam uma base de fãs que admiram todas elas, cooperam com as carreiras umas das outras.
Contrariando os que ainda estão presos no estereótipo de que mulheres são competitivas e precisam saber mesmo é de rebolar, as novas divas do sertanejo mostram que talento nunca nos faltou. E ainda que, se tem um lugar que ocupamos bem, é o de amigas. No palco e na vida, celebrar os espaços e as conquistas umas das outras é o que nos faz mais fortes. E se é sertanejo o nosso estilo de música favorito é só um detalhe.
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